segunda-feira, novembro 20, 2006

Feriado frustrado

Por falar nisso, hoje é feriado e dia de reflexão em mais de 200 municípios brasileiros. Em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia, entre outros. Menos no Rio Grande do Sul, no estado mais caucasiano do país, é claro.

Aqui no Sul, os imigrantes alemães e italianos têm o seu dia, em 25 de julho, comemorado com feriado e festividades nas regiões da Serra e no Vale do Sinos.

Já o 20 de novembro não vingou como feriado municipal nos pampas.

E a tal "consciência negra"?

Para quem quer saber o que - exatamente - significa "consciência negra" encontrei este texto de autoria do advogado, compositor, filósofo e músico Nei Lopes. Melhor definição, impossível.

Consciência Negra é saber que, no Brasil de hoje, não existe ainda igualdade total entre os descendentes dos africanos que para cá vieram como escravos e os daqueles que vieram da Europa e da Ásia, como colonizadores e depois como imigrantes. Estes, já tiveram representantes em todos os escalões dos três poderes da República, inclusive na Presidência. E o povo negro, não!

Consciência Negra é compreender que isso acontece não por incapacidade intelectual ou de trabalho do povo negro e sim pelo que aconteceu após o fim da escravidão. Os ex-escravos foram "jogados fora", sem terra para plantar, sem emprego, sem teto - a não ser aqueles que permaneceram com seus antigos donos. E aqueles que já não eram mais ou não tinham sido escravos e ganhavam sua vida por conta própria foram perdendo seus lugares, até nas ocupações mais humildes, para os imigrantes que aqui chegavam.

Consciência Negra é entender que desde antes da escravidão criou-se uma literatura através da qual se infundiu na cabeça do brasileiro uma impressão irreal sobre o povo negro como um todo. De que nós somos feios, sujos e pouco inteligentes; que só queremos saber de festa e divertimento; que nossas religiões são infantis; que só somos bons para pegar no pesado, praticar esportes, fazer música e praticar sexo. E muitos negros acreditaram nisso.

Consciência Negra é aprender como negar isso tudo: estudando a História da África, desde o Egito, passando pelos grandes impérios oeste-africanos da Idade Média; tomando conhecimento de que as concepções religiosas africanas têm um profundo fundamento filosófico, como foi inclusive comprovados por padres europeus que as estudaram.

Consciência Negra é saber que o povo negro não resistiu passivamente à escravidão e usou de todos os meios ao seu alcance para se libertar. É saber também que houve negros que lucraram com o tráfico de escravos, a partir do século 17; mas que, essa modalidade de escravidão, foram os europeus que levaram para a África.

Consciência Negra é, hoje, perceber que os que lutam contra a adoção de políticas de ação afirmativa contra o racismo e a exclusão do povo negro (como a chamada "política de cotas") são pessoas que não querem perder os privilégios de que desfrutam, com o possível ingresso em seus "reinados" (caso de alguns professores universitários que fizeram carreira estudando o "problema do negro") de concorrentes até mais bem preparados, pela própria vivência do problema.

Consciência Negra é, enfim, entender que o conceito de "negro" é hoje um conceito político, que engloba pretos, pardos, mulatos (menos ou mais claros) desde que se aceitem como tal e estejam dispostos a dar um basta no que hoje se vê nas telenovelas, nas profissões mais lucrativas, nas gerências empresariais, nos altos escalões de decisão, nos espaços de prestígio e de formação de opinião, nos locais onde se concentra a renda nacional. E o que se vê nesses lugares e situações é um Brasil que não corresponde à realidade de sua população, na qual mais de 60% são descendentes, próximos ou não, dos africanos aqui escravizados.

Valeu, Zumbi!

terça-feira, novembro 14, 2006

Semana de samba

Semana movimentada pra galera do samba. Pena que é tudo junto acontecendo quase ao mesmo tempo.

Na sexta, dia 11, estiveram aqui em Poa Zeca Pagodinho, Luis Carlos da Vila, Carlinhos de Jesus e a mostra de samba enredo para 2007.

Esta semana tem o Wantuir da Unidos da Tijuca e o Dominguinhos do Estácio, que está na Viradouro.

Tem vezes que não tem nada. E quando tem, é tudo na mesma hora.

Feriado na quarta

Feriado em meio de semana é estranho. Pode soar engraçado alguém criticar uma folga em pleno dia útil. Tá, mas que é estranho um feriado na quarta-feira, é estranho. A semana fica diferente. Uma pausa bem no meio. Não dá pra pirar muito quando um feriado acontece na quarta.

Quando o feriado cai numa segunda ou sexta, já sabemos! A sabedoria chama isso de feriadão (feriado num dia útil + o fim de semana). Se cai numa terça ou numa quinta, eu acho bom. Tá bom, a gente trampa no dia ensanduichado (segunda ou sexta), mas a gente meio que consegue empurrar com a barriga. Mas na quartam, não se tem muita diversidade.

Pior mesmo é o feriado que cai no fim de semana. Se o feriado acontece no sábado, o fim de semana passa a ter, na verdade, dois domingos, porque o comércio fecha e a cidade fica deserta. Se cai num domingo, meu Deus! É chover no molhado, um feriado posto fora.

Mas vamos curtir essa folguinha do dia 15 de novembro (a última do ano, fora o indefectível 25 de Dezembro - Natal) e aproveitar da melhor maneira possível. Dormindo, passeando nas praças, visitando os amigos, namorando, lendo um bom livro, escutando um bom CD, assistindo um bom filme. Ou simplesmente a melhor de todas as diversões: vivendo.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Por que "afoxé"?

Um conhecido me perguntou o significa o "afoxé" no endereço do "Blog du Brisa"...

Bem, os nomes que eu dou para as minhas coisas não são tão originais assim devido à minha fértil imaginação. Acho que é mais pelo inusitado da coisa.

O afoxé tem três significados. Pode ser um ritmo, um instrumento musical e tem um significado religioso.

No ritmo, o afoxé em alguns lugares também é conhecido como Igexá. Afoxé é um ritmo do candomblé. A marcação do agogô é sua batida característica, tornando esse ritmo facilmente identificável. O Afoxé se tornou popular, principalmente pela atuação do grupo baiano Filhos de Gandi. Cantores renomados como Gilberto Gil, Clara Nunes, Maria Bethânia e Caetano Veloso também interpretam afoxés, contrubuindo também para a difusão do ritmo.

O afoxé instrumento musical é composto de uma cabaça pequena redonda, recoberta com uma rede de bolinhas de plástico. Pode ser de madeira e/ou plástico com miçangas ou contas ao redor de seu corpo. O som é produzido quando se gira as miçangas em um sentido, e a extremidade do instrumento (o cabo) no sentido oposto. Antigamente era tocado apenas em centros de umbanda e no samba. Atualmente, o afoxé ganhou espaço no reggae, música pop e na chamada "axé music".

E na questão religiosa, o afoxé, também chamado de "candomblé de rua" - é um cortejo de rua que sai durante o carnaval. Sua origem remonta a uma tradição milenar africana: os caminhos sagrados para chegar aos orixás. As principais características são as roupas, nas cores destas divindades africanas, as cantigas em dialeto iorubá, instrumentos de percussão, atabaques, agogôs, afoxés e xequerês. Podem ser encontrados no carnaval da Bahia, em Salvador, e nas cidades de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

Quando eu estava procurando um nome para o blog, eu estava escutando um antigo samba enredo, de uma escola de samba de Niterói chamada Acadêmicos do Cubango. O nome do samba era justamente "Afoxé", um belíssimo samba. Achei legal o nome, oportuno e aí está.

Quem quiser conferir o "samba que deu origem à série", estejam à vontade...

http://rapidshare.com/files/2722853/cubango1979.mp3

Autores: Heraldo Faria e João Belém

Abrindo o portão imaginário
Do longínquo solo africano
A Cubango traz para o cenário
Afoxé, tema original
Do reino de Oloxum
Na festa de Domurixá
Em homenagem a Oxun
Deusa da nação Ijexá
Onde a figura principal
Era o boneco Babalotim
Mensageiro da alegria, da força do axé
Um ídolo menino, levado por menino em sua fé
E assim teve origem o afoxé

Afoxé lorin, é lorin
Afoxé loriô, é loriô

Nesta festa desfilavam com riquezas
Os soberanos orientais
O advinho joga búzios com presteza
Desvendando o futuro e o que ficou pra traz
Tem as cortes dos Reis Lobossi e Obá Alaké
Xangô em seu camelo sagrado
Esta é a história do afoxé
Que hoje desfila pelas ruas em rituais
Louvando os orixás

Ofi la laê, Olê loá
Ofi la laê, Olê loá

quarta-feira, novembro 08, 2006

Ah, a tal liberdade não existe...

Dias atrás comecei a filosofar. Mas então: o que vem a ser essa tal de liberdade? Alguém é possível ser totalmente livre? Nunca vi ninguém vestindo uma t-shirt com os dizeres: 100% FREE. Também, e se eu encontasse, iria querer saber qual a fórmula mágica para se atingir tal estado.

Nunca estamos totalmente livres. Estamos presos a relacionamentos (namoro, noivado, casamento) ou a ausência destes (separação, divórcio). Não por acaso, nos envolvemos em "laços" afetivos, o que já determina as amarras. Estamos presos a quem está aí e a quem já se foi. Estamos presos à saudade. Estamos presos à necessidade de trabalhar, produzir e labutar. Estamos presos ao cartão de crédito. Estamos presos aos impostos. Estamos presos às regras impostas para conviver em sociedade. Alguns estão presos ao fumo e à bebida. Outros estão presos ao sexo.

Um amigo doidão que eu tive uma vez me disse que, para se libertar, ele viajava, fazendo a cabeça. No entanto, ficou incorrigivelmente preso às drogas. Deve ser uma tristeza viver preso a uma cama de hospital. Deus nos livre! Ou presos às ferragens de um automóvel após um acidente. Igualmente ruim seria viver preso a correntes, gaiolas ou coleiras.

Creio que a liberdade plena é um prêmio a ser conquistado, mas que se mostra inacessível.